19 outubro 2009

Três poesias sobre bailarinas








A BAILARINA
Cecília Meireles

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá
mas inclina o corpo para cá e para lá.

Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os ohos e sorri.

Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.




Ciranda da Bailarina
>> Chico Buarque

Procurando bem

Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não temNem unha encardida
Nem dente com comidaNem casca de ferida
Ela não tem
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem...



A bailarina
Toquinho
Um, dois, três e quatro,
Dobro a perna e dou um salto,
Viro e me viro ao revése se eu caio conto até dez.
Depois, essa lenga-lenga

Toda recomeça.
Puxa vida, ora essa!
Vivo na ponta dos pés.
Quando sou criança

Viro orgulho da família:
Giro em meia ponta
Sobre minha sapatilha.
Quando sou brinquedo

Me dão corda sem parar.
Se a corda não acaba
Eu não paro de dançar.
Sem querer esnobar

Sei bem fazer um grand écart.
E pra um bom salto acontecer
Me abaixo num demi plié.
Sinto de repenteUma sensação de orgulho

Se ao contrário de um mergulho
Pulo no ar num gran jeté.
Quando estou num palco

Entre luzes a brilhar,
Eu me sinto um pássaro
A voar, voar, voar.
Toda bailarina pela vida vai levar

Sua doce sina de dançar, dançar, dançar...

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